segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ponderações acerca de agosto.

Foi escrito em 09/08/2009, mas achei melhor postar no último dia do mês. :)

Peno, sofro em meio a agosto
Meu ócio não é nada produtivo
De má vontade e mau gosto
Escrevo versos de modo furtivo.

Uma tristeza e uma epidemia
Em agosto, grande ócio
É, agosto me causou alguma alegria.
Epidemia às vezes é bom negócio.

Agosto de dias preguiçosos
No futuro, será que me lembro?
Ai, dias tão ociosos,
Deixando tudo pra setembro.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sobre mutualismo e outras relações.


A foto cai bem porque são duas borboletas acasalando. *-*

Bem, com esse título não preciso dizer mais nada. :p

Meu desejo aflora pela minha pele,
Pelo meu suor, pelos meus dedos
Faz com que eu me sirva, me entregue
À ele sem pudor ou medo.

Louco amor, insistimos em fazer
Alimentamo-nos de nossos desejos
Na incessante busca do desperto prazer
Perdemo-nos em meio às carícias e beijos.

Eu não nego, me entrego, eu me dou
E do meu corpo, ele se alimenta.
De tudo o que cresce, do que vingou
É o desejo dele o que me sustenta.

Para alimentar minha poesia,
Ao meu lado, ele se deita
Produzindo matéria, sugando energia
Fazer amor, simbiose perfeita.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mundo Grande.

De Carlos Drummond de Andrade.

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Visite as diferentes cores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem...sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai inundanado tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que os homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei a voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstantes exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! nós te criaremos.

Fico me questionando: "Por quanto tempo ainda pensarei assim?"

domingo, 23 de agosto de 2009

Traição

Coisas engraçadas acontecem. Hoje escrevi uma poesia, e quando a terminei, me vi traindo uma das coisas que mais acredito, em partes. Revoltei-me contra Heráclito. Bizarro, não? Logo Heráclito? Depois de reler dezenas de vezes o que escrevi, constatei algumas coisas. Vou transcrever a poesia e depois farei alguns comentários sobre.

Corro por entre as paredes
Que fazem círculo deste labirinto.
Nado rios de absinto
À procura da saída.

O tempo passa, nada muda
A paisagem, o rio, a água,
Até mesmo a minha mágoa,
Tudo parece imutável.

Eu acreditava na mudança,
Agora não sei se nem tudo é o que parece
Só sei que não importa por onde eu comece
Para lá, sempre voltarei.

Aquela mesma confusão
Ainda presente na minha memória
Vejo se fazer a mesma história
Sabendo eu, o fim.

Refleti sobre o que eu havia escrito. Vi-me diante de um dilema dos brabos. A questão é que eu não sei mais se toda mudança é realmente uma mudança (mudança relacionada ao ser, de qualquer coisa ou evento).


Talvez se eu disser que nem toda mudança é uma mudança, eu esteja traindo de forma brutal aquilo o que eu acredito, porque a mudança estaria sendo de certa forma imutável, ou seja, não há mudança. Eu estaria destruindo a minha crença (se é que assim posso dizer) com ela mesma. "Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dissipa-se e reúne-se; avança e se retira." Heráclito de Eféso, fragmento 91.

Bem, se não há mudança no rio, na paisagem, ou em quem entra no rio, há como entrar duas vezes no mesmo rio sim. Mas aí lembrei, para não me sentir culpada, do fragmento 49a de Heráclito: " Descemos e não descemos nos mesmos rios (...)". Ou seja, com a mudança, o rio se torna diferente, se torna outro rio, mas ainda é o mesmo.

Mas podemos analisar a minha dúvida sob uma outra luz. Se segundo Heráclito as coisas são e não são (frag. 49a, antítese a fala de Parmênides), a mudança também pode ser e não ser. A mudança pode ser imutável, não surtir efeito. É uma mudança, mas que não muda nada. Acho que tudo é o ponto de vista.

Bem, antes eu tivesse parado no questionamento acerca da mudança. O problema maior é que eu citei Parmênides. Acredito que essa tenha sido a facada mor. Pensei, pensei. Não é possivel que eu concorde com Parmênides, vá contra Heráclito. Foi aí que tudo se esclareceu pra mim, que tudo se encaixou. Eu não estava indo contra Heráclito. Percebi uma coisa curiosa.

Fiz referência ao fragmento 5 de Parmênides "Pouco me importa por onde eu comece, pois para lá, sempre voltarei novamente." E de fato, acredito nisso, e isso tinha me deixado assustada. Fiz uma articulação desse fragmento de Parmênides com a obra de Heráclito.

A minha interpretação para este fragmento é que, não importa o caminho que eu tome, o fim será sempre o mesmo, eu voltarei sempre pra onde comecei. Isso indica duas coisas:
  1. A vida é só princípio, um ciclo, onde o final é sempre princípio e o princípio é final;
  2. Todos os caminhos levam a uma mesma coisa.

Acerca do tópico 1. Ora, com estepensamento, Parmênides, podemos concluir que a avida é como um círculo, um ciclo, onde o final é o princípio e o princípio é o final. Este pensamento está em concordância com o fragmnto 103 de Heráclito: "Na circunferência, o princípio e o final se confundem." Ou seja, há como ser e não ser ["Descemos e não descemos nos mesmos rios, somos e não somos", Heráclito, frag. 49a], pois em medida que se faz final, já é princípio e vice-versa. Se eu voltarei pra onde eu comecei, o final se faz onde foi o princípio. Eles se confundem porque "[...] a mudança de um dá o outro reciprocamente" [Heráclito, frag. 88]. Princípio e final são contrários, mas constituem um binômio, a mesma coisa, são somente um.

Acerca do tópico 2, podemos dizer que se todos os caminhos levam a uma mesma coisa, para efeito, são os mesmos cominhos, e isso Heráclito também afirma no fragmento 59, que diz: "O caminho da espiral sem fim é reto e curvo, é um e o mesmo."

Ou seja, acredito que o 5º fragmento de Parmênides não seja o ideal para sustentar a imobilidade do ser, e acredito que quanto a esse fragmento, há até uma certa concordância com Heráclito, talvez seja por isso que de cara me encantei tanto com ele [o fragmento]. :p

Mas sinceramente, agora não discrimino tanto Parmênides. Sei lá porque. Antes eu tinha um puta preconceito com ele, mas parece que depois de algumas leituras, compreendi o ponto de vista dele. Acho que estou como o Calvin naquela tirinha sobre o "cubismo". Estou conseguindo enxergar de vários ângulos. Em partes, tá sendo horrível, confunde muito. Essa minha alta capacidade de compreensão às vezes me incomoda, às vezes me perjudica, às vezes me deixa a ver navios, às vezes faz com que eu [às vezes não, sempre] ceda por compreender o outro ponto de vista [mesmo que eu não largue o meu, na maioria das vezes]. A questão é, acho que estou conseguindo largar meus preconceitos. Acho que não odeio Parmênides tanto assim. Há falhas nos escritos dele, assim como há nos de Heráclito. Mas não sei, é uma questão de gosto, me identifico mais com Heráclito. Um dia quem sabe eu possa ler alguém que encontrou o meio termo entre os dois [que é no que eu acredito], quem sabe um dia eu mesma possa fazer isso?

Enfim, qualquer discordância, estou aberta a discussões, okay?

E-mail: lary.rfsl@gmail.com

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Por que sempre a vida?

Agosto está sendo um mês realmente produtivo pra mim, em termos de poesias e blá. Não estudar faz bem. Além disso, estou um pouco mais " a flor da pele", às vezes isso é bom. Bem, tenho escrito tanto, que daria uma postagem pra cada dia e ainda ia sobrar. Porém, não vou postar todos os dias porque senão posso ficar mais pra frente sem ter o que postar. :\ Sei lá, né? Não é todo mês que isso acontece. :T

Minha vida é o aborto de um poeta
Um projeto mal-feito
Uma passagem secreta
Um rio sem leito.

Minha vida é um abismo
Um atalho, um caminho,
Um trajeto que cismo
De percorrer sozinho.

Minha vida é incolor
Um fracassado fraseado musical
Formado só de dós de um dor
Que afiam meu bom e velho punhal.

Minha vida é belo perigo, anoitecer
É uma mazela, uma cancela
Onde paro pra escrever
Nas velhas páginas amarelas.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Novembro.


Caramba, às vezes não dormir pode ser produtivo. Agora, por exemplo, consegui realizar um dos meus maiores sonhos: o de fazer um soneto, e o que é melhor: sobre o mês que mais amo, novembro. Demorou, mas acho que valeu a pena. Não sei se ficou bom, mas aí está.

Soneto de Novembro

Exala o final do odor das rosas.
Novembro, dias incomparáveis.
Tão belo, setembro não chega a tal.
Novembro, tuas manhãs afáveis...

Novembro encanta, hipnotiza.
As pétalas de tuas flores são
Belos poemas e poesias,
Suaves notas de uma canção.

Nos jardins, casais entorpecidos,
Enlouquecidos, convencidos
De que a doce primavera acabou.

Arrancam flores, cores, amores
Das formosas pétalas, sabores.
Se bem me lembro, belo novembro.