terça-feira, 18 de abril de 2006

A passagem

Os teus olhos tocaram a pele como que espera por uma boa conversa. O brilho destes fazia cócegas em minha nuca e me fazia rir. Vagarosamente teu sorriso se abria, me chamando silenciosamente. Teu sorriso tentava me parar, tentava virar meus olhos para os teus, mas minhas pernas seguiam firmes, como pernas que tinham um objetivo, um rumo certo a seguir, mesmo que isso não fosse verdade. Meus pés se jogavam um diante do outro, com alguma pressa. Tuas mãos, num gesto singelo e discreto, pareciam querer me alcançar, mas a razão me empurrava pelos ombros com vontade. Conforme tudo passava, eu passava. As tuas mãos, encabuladas, se recolheram, se fecharam. A voz do teu sorriso foi diminuindo, diminuindo, até que se calou. Já teus olhos, permaneceram fixos a minha expressão serena por alguns instantes. Até que as cócegas em minha nuca cessaram, tirando a cor do meu sorriso. Teus olhos já não me alcançavam; o ritmo de minhas pernas se fez lento. Virei e tudo havia voltado ao normal. Era o bastante. Esbocei novamente um sorriso, e minhas pernas recuperaram o ritmo.

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